quinta-feira, 17 de novembro de 2011

"Na vida, não existem soluções. Existem forças em marcha: é preciso criá-las e, então, a elas seguem-se as soluções." A. de Saint-Exupéry

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Na vida só há redo, não undo.

Undo, redo.
Dois mecanismos usados nos nossos trabalhos de todos os dias nos processadores de texto, folhas
de cálculo, apresentações...

Mas o que acontece se importamos a categoria virtual do undo para o nosso mundo real? A realidade torna-se virtual.
A plenitude de vida que desejamos passa a ficar limitada à virtualidade. Undo é a pretensão de podermos desfazer uma coisa sem deixar marcas.
A experiência mostra-nos que isso é impossível mesmo em transformações físicas: apenas o esticar de uma corda a enfraquece - todas as coisas que usamos no dia-a-dia têm período de validade. A física teórica aponta-nos que todas as transformações implicam um aumento de entropia do universo (3º Princípio da Termodinâmica).

Também a nossa vida deve ter esta consciência: nada do que fazemos pode ser desfeito. Apenas reparado. Se não temos bem consciência disto, cai-se numa alienação de viver na expectativa de poder sempre voltar atrás.

Na nossa vida só existe de facto - a nível da acção - do e redo. Do é dinamismo de um esforço, com sentido, que é começado, ao passo que redo é o dinamismo que permanece em tentativa de melhorar, aprofundar, superar, perseverar.

Que alicerce pode iniciar um esforço? Muitos serão. Entre eles estará o desejo de superação, a necessidade de procurar um sentido para a existência, a partilha do dom que cada um é, a concretização do amor por algo que supere a inércia que brota do desânimo, do se resignar à aparência do sem-sentido, de se deixar apenas ficar no undo, ou pior pensar que nele se pode ficar.


quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Do livro de KUNDERA, Lentidão, Edições Asa, p. 30:
"Imprimir forma numa duração, tal é a exigência da beleza, mas também da memória. Porque o que é informe é inapreensível, imemorizável"

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Nos últimos tempos uma reflexão tem andado à minha volta.
Acho que uma das mais importantes aprendizagens ao homem é o uso do tempo. Cada vez mais me consciencializo que o nosso tempo é limitado. O tempo é-nos dado como um presente, mas pergunto-me se o usamos em jeito de o podermos crescer.
Há uma sabedoria ancestral que a bíblia tem e que o livro de Qohelet (3, 1-8) condensa como nenhum:

«Tudo tem o seu tempo determinado,
e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer;
tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
Tempo de matar, e tempo de curar;
tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir;
tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras;
tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
Tempo de buscar, e tempo de perder;
tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser;
tempo de estar calado, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar;
tempo de guerra, e tempo de paz.»



Este é um texto em que a mudança é encarada como decurso normal da vida, sabendo que tudo tem o seu tempo. Então em que se fundamenta a resistência humana à mudança? Porque é que a ideia de mudança assusta e tanta literatura se escreve a esse propósito? Certamente que o medo é aqui factor importante. Mas qual é o dinamismo humano profundo a que se deve esta moção? Estou convencido que se trata, de facto, de uma sede de valores permanentes, de um horizonte em que o tempo já não leve à mudança, ou seja de uma plenitude, como um desejo impresso no espírito humano.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Não te peço apenas...

Não te peço apenas que veja,
mas que não me esqueça de que tenho olhos.

Não te peço apenas pés para caminhos trilhar,
mas que não me esqueça de que os posso movimentar.

Não te peço apenas as palavras para dizer,
mas que não me esqueça de que tenho boca para as pronunciar.

Não te peço apenas a força para agarrar,
mas que não me esqueça de que tenho as mãos trabalhar.

Não te peço apenas para crescer,
mas que não esqueça de que eu ja estou a ser.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Que as pedras se quebrem!

Que as pedras se quebrem

diante do Sopro suave

que do Alto cai em gotas de sangue

na dureza da superficialidade.


Que as pedras se fendam

e se colmatem do húmus

e nelas brote a vida

que nelas cai.


Que as pedras se abram

e as trevas se iluminem

na transparência revelante

da rugosidade crua e pura

da verdade carente assumida

na Verdade vivente e doada.

sábado, 23 de abril de 2011

Detiveram-se 'calados' os nossos passos

"Detiveram-se os nossos passos, às tuas portas Jerusalém..."

A atitude de estupefação diante de um evento surpreendente deixa geralmente o homem em atitude de abrandamento de ritmos, paragem contemplativa, ... diante de um Belo calam-se geralmente os ritmos acelerados, numa lentidão de passos para permitir que a percepção se sacie e se deixe revolver e extasiar no que a transcende.

Dizia Wittgenstein que sobre que "aquilo que não se pode falar, deve-se calar". O filósofo aqui tem quase razão - o que nos transcende é maior do que a nossa linguagem; de facto, quando falamos de algo que é maior do que nós, todas as nossas afirmações são heréticas - são heréticas por sempre truncarem parte de um dado maior nos limites da afirmação quer linguística, quer existencial. Sócrates, o grego, teve esta mesma consciência - por isso apelou à humildade como condição que para que o conhecimento possa crescer. Só quem se coloca na atitude de querer dominar o que o transcende é que pode pretender assim afirmar dono da Verdade.

Mas também como é que se nos dada a percepção do transcendente, nos temos depois de nos remeter a um silêncio castrante, e deixar a nossa existência hermética diante de um transcendente?! A tradição católica designa esta atitude de Temor de Deus. Então, não será que o surgimento do Belo diante da percepção limitada do homem não haverá de marcar a consciência do homem com a Esperança na reverância que o sustente na sua acção?!

Dostoievsky dizia que a Beleza salvará o mundo. Tem razão. A Beleza que não será apenas a dos altos muros erguidos, ou dos mais rebuscados pináculos góticos de uma titânica catedral, mas aquela que está presente no rosto de cada um. É na dignidade da pessoa que a beleza resplandece de mais nítida. Mas pode um rosto ferido e desfigurado "deter os passos" apressados?

Pode. Pode quando nos percebemos que Aquele, de quem somos à Imagem, está no lugar que nos pertenceria - o de termos que sofrer pelo mal que nos flanqueia e que nós também flanquemos.
Pode. Pode vemos que o sofrimento faz também parte da nossa existência, e que esse mesmo sofrimento se torna também redentor dos homens por serem oportunidade abertas a perceber a contingência pessoal, que é atenuada no rosto de outro contingente.
Pode. Pode quando percebemos que o rosto mal-tratado se tornou vivo, numa abundância de vida que surpreende e que se tornou presente em cada um. Mas esse outro já não é contingente, mas sim Absoluto, e que o lugar que ocupa afinal existia em nós, ainda que nós não o sabessemos e não sabermos. Mas sabemos que ocupa. E por isso ficamos calados.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Matéria Criada


- partícula de Highs Boson, a partícula de Deus, que o CERN procura -


O que é que nos leva ao conhecimento?
Este é um dos temas mais célebres da filosofia.
Esta sempre reflectiu sobre este fenómeno. E parece que quanto mais se investiga, mais se interroga. Como é que conhecemos? Algumas coisas me parecem certas. Todos acabamos, no meio da nossa finitude por ver as coisas de um determinado modo, que varia de pessoa para pessoa. Isto torna-se ainda mais evidente à medida que se estuda a história do pensamento ou quanto mais se viaja. É fácil perceber que o conceito metafísico de Ideia em Platão representava o expoente da realidade, na qual nada de sensível poderia habitar, até Kant que a considerava como um devaneio irresistível da razão e princípio heurístico da especulação, necessária para a formulação dos juízos. Ou então, a introdução do Zero na matemática, como conceito do vazio, o qual permitiu uma afinação da exactidão matemática. Mas até este ponto é interessante. É pelo facto de se introduzir um elemento metafísico na concretude dos cálculos matemáticos que estes conseguem descrever a realidade com maior exactidão. Mais uma vez se verifica que a referida "ciência exacta" é apenas um dinamismo de aproximação de uma realidade que a transcende, e que não a consegue abarcar.
Mas como conhecemos? O conhecimento existe e isso é um dado que não podemos pôr de parte, ainda que aconteça em nós de forma sempre imperfeita, e por isso sempre dinâmica.

A matriz da formação material tem de ter o mesmo princípio base onde possa ocorrer a sinergia entre o nosso pensamento e razão com o objecto onde nos deparamos. Estámos ligados a tudo, mas existe em nós, homens um salto ontológico de percepção da realidade, pela nossa própria auto-consciência.
Para a fé - e aqui já vimos que nem a melhor ciência exacta é assim tão exacta, mas no domínio estrito por si validamente definido - este Princípio é o Logos, no qual todas as coisas foram criadas e que marca a criação com a sua inteligibilidade. Mas se o Logos é perfeito, como podem as coisas criadas serem contingentes? Esta é batalha para outras núpcias... a qual não me irei escapar em próximo post.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Mesmo apenas de um olhar positivista, a vida é algo que não pode deixar de fascinar. Mesmo do ponto de vista mais frio, interrogarmo-nos de como a matéria supera a acção de dinamismos de partículas para a ter capacidade de decidir, numa simbiose contingencial de vontade com o corpo e a vontade, é evento de expressão inefável.
Ainda assim, a vida corre o risco de ficar atolada em pântanos, lodos e areias movediças que podem paralisar a vontade. Aliás, todos vivemos momentos em que ficamos mergulhados na nossa subjectividade sem horizonte de esperança objectivável. Estas englobam geralmente ou sofrimentos alheios ou danos por terceiros. E se há situações que podem ser superadas graças à nossa força, aquelas que são realmente profundas requerem a presença do outro para auxiliar, ou então mesmo para ser resgatar. A necessidade de quem auxilie na dádiva da vida com sentido é pois fundamental, não para dar o que já se tem, mas para apontar para o que ainda se não é. E na descoberta da nossa contingência intuímos a necessidade de sermos completados por aquilo, ou melhor, pelo rosto de um tu diferente que nos faz mais completos.
Mas eis que o dilema acontece. A vida, a matéria consciente, deixa de ser consciente, pelo menos de forma aparente, num fenómeno que se chama morte. Ficamos frios. Mas pode-se matar a vontade, se o corpo permanece visível a nossos olhos? Digo-o assim: o meu grito pela transcendência de ser não pode ser satisfeito no regaço de alguém contingente. Não pode. E se alguém diz que sim é porque mente. Só a fonte de toda e qualquer transcendência pode realmente dar a vida em abundância, numa torrente forte, serena e surpreendente que transforma e nos sacia o desejo e nos faz ansiar por mais. Falo pois de Amor. É este mesmo Amor que alimenta quem decide abraçar o chão que outros pisam para ser símbolo do Amor que vive. Pois o amor faz gerar vida.