segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Porto

Hipérbole à parte, o senhor é capaz de ter razão:


«O Porto?! (...) O senhor já viu no mundo terra mais linda e gente mais séria? Devo confessar ter-lhe respondido que a respeito da beleza conhecia melhor. Mas, quanto à seriedade, concordei. E acrescento agora que só quem de todo quiser as evidências e apagar o facho de gerações e gerações, é que pode deixar de combater para que esta terra continue a ser o reduto das nossas velhas virtudes, das quais está certamente mais em risco de perder-se a que D. João de Castro sabia que se chamava honradez. (...) O indivíduo que põe num cabelo o valor de todo o corpo, é um ser completo. Da cabeça aos pés, passando pela alma, a sua unicidade não tem fendas, e joga como um bloco maciço. É uma força invencível. Ora se acontece que ele, em vez de se consubstanciar num simples cabelo da cara, polariza o que é na própria terra onde mora, então o perfeito torna-se exemplar, e surgem fenómenos como os do cidadão do Porto, o homem português mais livre, mais progressivo, mais responsável e mais capaz que a nossa pátria deu.»

Miguel Torga, Portugal, pp. 57-58.