sexta-feira, 27 de julho de 2012

Tempo e eternidade

Tempo. Eternidade. Os mais antigos lembrar-se-ão do início da série do Star Trek, com os relatos do Capitão Kirk. 


A questão do tempo é para mim fascinante e é a prova de que estamos num permanente devir. O que agora é, já não é, mas ainda assim permanece algo do que é. Penso que S. Agostinho o dizia muito bem quando pensava o tempo passado como a memória, o futuro como a esperança, e o presente é o agora, onde tudo se decide. E em cada agora que o homem, vive estas três dimensões. Não posso deixar de pensar se será verdadeiramente real que o futuro seja visto por todos com esperança. A prática di-lo que não... Mas uma pessoa sem esperança é uma desanimada [des-animada=sem alma]. Sem esperança não há caminho que se comece. Nem meta que se chegue. 

Há uns anos um filme marcou-me - The Dead Poets' society = Clube dos poetas mortos. Quem o viu recordar-se-á dos chavões Oh Capitain, my Capitain e de Carpe Diem, Seize the day = aproveita o dia. Este é hoje o centro da minha reflexão, tema que venho pensando há algum tempo. Roberto Benigni afirma: "‎(...) sente che non vive per il carpe diem, per quelle cose, che è una cosa tristissima; no, vive un attimo eterno: per sempre!" O nosso tempo está informado pela eternidade - daquela que o S. Agostinho descreveu, numa unidade de passado, presente e futuro. Eternidade que necessariamente nos transcende. Karl Rahner dizia que desde que o eterno (Jesus Cristo) tinha entrado no efémero (nosso tempo), todo o nosso tempo estava em Deus. A nossa experiência já não é a de alcançar Deus, mas a de reconhecer que já estamos nesse mesmo espaço. Vivemos em cada dia um novo desafio, mas não vivemos apenas para o dia - vivemos com passos que pisam já a senda da eternidade. Vivemos na liberdade que é a capacidade de fazer algo verdadeiramente irrepetível. Vamos à vida!




Já agora vale bem a pena ver este video, que está em italiano.
http://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&NR=1&v=4VQ4xqL6mFU [1:42].

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

"Na vida, não existem soluções. Existem forças em marcha: é preciso criá-las e, então, a elas seguem-se as soluções." A. de Saint-Exupéry

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Na vida só há redo, não undo.

Undo, redo.
Dois mecanismos usados nos nossos trabalhos de todos os dias nos processadores de texto, folhas
de cálculo, apresentações...

Mas o que acontece se importamos a categoria virtual do undo para o nosso mundo real? A realidade torna-se virtual.
A plenitude de vida que desejamos passa a ficar limitada à virtualidade. Undo é a pretensão de podermos desfazer uma coisa sem deixar marcas.
A experiência mostra-nos que isso é impossível mesmo em transformações físicas: apenas o esticar de uma corda a enfraquece - todas as coisas que usamos no dia-a-dia têm período de validade. A física teórica aponta-nos que todas as transformações implicam um aumento de entropia do universo (3º Princípio da Termodinâmica).

Também a nossa vida deve ter esta consciência: nada do que fazemos pode ser desfeito. Apenas reparado. Se não temos bem consciência disto, cai-se numa alienação de viver na expectativa de poder sempre voltar atrás.

Na nossa vida só existe de facto - a nível da acção - do e redo. Do é dinamismo de um esforço, com sentido, que é começado, ao passo que redo é o dinamismo que permanece em tentativa de melhorar, aprofundar, superar, perseverar.

Que alicerce pode iniciar um esforço? Muitos serão. Entre eles estará o desejo de superação, a necessidade de procurar um sentido para a existência, a partilha do dom que cada um é, a concretização do amor por algo que supere a inércia que brota do desânimo, do se resignar à aparência do sem-sentido, de se deixar apenas ficar no undo, ou pior pensar que nele se pode ficar.


quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Do livro de KUNDERA, Lentidão, Edições Asa, p. 30:
"Imprimir forma numa duração, tal é a exigência da beleza, mas também da memória. Porque o que é informe é inapreensível, imemorizável"

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Nos últimos tempos uma reflexão tem andado à minha volta.
Acho que uma das mais importantes aprendizagens ao homem é o uso do tempo. Cada vez mais me consciencializo que o nosso tempo é limitado. O tempo é-nos dado como um presente, mas pergunto-me se o usamos em jeito de o podermos crescer.
Há uma sabedoria ancestral que a bíblia tem e que o livro de Qohelet (3, 1-8) condensa como nenhum:

«Tudo tem o seu tempo determinado,
e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer;
tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
Tempo de matar, e tempo de curar;
tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir;
tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras;
tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
Tempo de buscar, e tempo de perder;
tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser;
tempo de estar calado, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar;
tempo de guerra, e tempo de paz.»



Este é um texto em que a mudança é encarada como decurso normal da vida, sabendo que tudo tem o seu tempo. Então em que se fundamenta a resistência humana à mudança? Porque é que a ideia de mudança assusta e tanta literatura se escreve a esse propósito? Certamente que o medo é aqui factor importante. Mas qual é o dinamismo humano profundo a que se deve esta moção? Estou convencido que se trata, de facto, de uma sede de valores permanentes, de um horizonte em que o tempo já não leve à mudança, ou seja de uma plenitude, como um desejo impresso no espírito humano.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Não te peço apenas...

Não te peço apenas que veja,
mas que não me esqueça de que tenho olhos.

Não te peço apenas pés para caminhos trilhar,
mas que não me esqueça de que os posso movimentar.

Não te peço apenas as palavras para dizer,
mas que não me esqueça de que tenho boca para as pronunciar.

Não te peço apenas a força para agarrar,
mas que não me esqueça de que tenho as mãos trabalhar.

Não te peço apenas para crescer,
mas que não esqueça de que eu ja estou a ser.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Que as pedras se quebrem!

Que as pedras se quebrem

diante do Sopro suave

que do Alto cai em gotas de sangue

na dureza da superficialidade.


Que as pedras se fendam

e se colmatem do húmus

e nelas brote a vida

que nelas cai.


Que as pedras se abram

e as trevas se iluminem

na transparência revelante

da rugosidade crua e pura

da verdade carente assumida

na Verdade vivente e doada.