quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Habitua-nos



Vem salvador do homem
Vem habitar connosco
E habitua-nos a estar contigo!

Vem Menino de Deus
Vem brincar connosco
E reacende em nós a alegria

Vem olhar eTerno
Vem ser luz para nós 
E recria-nos no cuidado de ti

Vem Palavra de Deus
Vem semear a paz
E desarma as nossas mãos
Para te alcançarem nos irmãos. 

terça-feira, 20 de outubro de 2020

Um olhar global para a Encíclica Fratelli Tutti: Uma visão política e social inspirada em valores cristãos

 


 O Papa Francisco lançou no passado dia 3 de Outubro a encíclica Fratelli Tutti, sobre a fraternidade e amizade social. É um texto em que o Papa continua a reflexão social da Laudato Si, desta vez colocando o enfoque sobre a construção da paz entre a humanidade, cuidados e realidades a ter em conta neste processo. Considerando que a primeira Encíclica - Lumen Fidei - nasce do trabalho do seu antecessor Bento XVI, percebemos como Francisco insiste nos temas da doutrina social. 

Não se trata de um texto dogmático, ou de desenvolvimento teológico, salientando-se a figura do Bom Samaritano como modelo para convidar e interpelar a humanidade a sair de si. É um texto que tem raízes no diálogo inter-religioso com o Grande Imã Ahmad Al-Tayyeb, nomeadamente no documento sobre a fraternidade humana em prol da paz mundial e da convivência comum, assinado em Abu Dhabi a 4 de fevereiro de 2019.

Fazendo o diagnóstico da sociedade, Francisco identifica as exclusões sociais, a falta de consciência histórica, os perigos da globalização, a falta de sabedoria num mundo de informação como dramas do nosso tempo.

A maior parte do texto é sobretudo de carácter político e social, na medida em que reflecte sobre a forma de organização do poder e da sociedade para combater a exclusão lembrando a pertença à mesma humanidade, à mesma família humana. É neste horizonte que coloca a fraternidade universal, inspirando-se em S. Francisco de Assis. O Papa coloca a necessidade do acolhimento do estrangeiro, alerta ao ressurgimento de realidades que oprimem aquele que é diferente, denuncia a tendência actual para homogeneizar a cultura. Se é verdade que o conflito é realidade que acompanha a natureza humana (cf. nn. 237-240), a família humana é convidada a descobrir a unidade que o amor promove. Por isso o Papa apela a toda a humanidade ao acolhimento do outro por si, naquilo que cada um é, dando-lhe espaço para a sua liberdade e evitando que a humanidade caminhe para um uniformismo. A imagem que o Papa usa para sonhar a sociedade é a do poliedro, que já tinha surgido na Exortação Apostólica Alegria do Evangelho (n. 215), colocada assim como paradigma para criar uma sociedade heterogénea mas sem excluídos.  

O Papa sublinha que toda a transformação da sociedade é realidade que começa no coração de cada um, o qual é marcado pela fragilidade que leva ao egoísmo, e que com a ajuda de Deus é possível ser "dominada" (n. 166). Como já referi no início, o texto não trata em profundidade categorias teológicas, pelo que, por exemplo, não encontramos qualquer referência a termos como "salvação" ou "redenção" ou "Santíssima Trindade". 

Atravessado pela marca do diálogo inter-religioso, assinala-se que as religiões têm todas um contributo para dar à humanidade, pela sua abertura ao transcendente, e que «sem uma abertura ao Pai de todos, não podem haver razões sólidas e estáveis para o apelo à fraternidade.» (n. 272). 

É um texto marcado pelo estilo de Francisco, e por isso bastante distinto dos seus antecessores, cujas encíclicas sobre a doutrina social tinham uma maior pendor  teológico - João Paulo II, na Sollicitudo Rei Socialis e Bento XVI, na Caritas in Veritate; nesta encíclica, a reflexão é feita predominantemente a partir da categroria humana, mesmo na leitura da figura do "bom samaritano" e como tal não se coloca tanto num texto de leitura para "inteligência da fé", mas para um diálogo aberto com a sociedade. Creio que também terá sido por esta metodologia que o texto foi recebido com desagrado nalguns ambientes eclesiais como um texto próximo da maçonaria. Todavia, penso ser um texto que nos exorta a ter consciência do pluralidade do nosso mundo, e creio que nos chama a viver a fé no respeito pelos demais, sem que com isso nos dispense de testemunhar e anunciar o Evangelho. A tentação de neste texto ver apenas um humanismo seria redutor da Tradição da Igreja; bem sabemos que em nome de humanismo se cometeram e cometem algumas das maiores atrocidades da história da humanidade. 


segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Sobre Job

 

À vida que desaba
não te deixes esmorecer;
o caminho que trilhamos 
não termina ao morrer.

São passos pesados de dar,
Mas o caminho é feito devagar;
e mesmo na maior solidão
Deus guia-nos na missão

A fidelidade é caminho estreito
Onde a felicidade cresce devagar;
mas onde a confiança é o alicerce 
da entrega que sequer renovar.